sábado, 22 de abril de 2017

Você sabe reconhecer um relacionamento abusivo?

Algumas pessoas provavelmente logo vão responder que sim. Afinal, como não reconhecer um abusador? Como não reconhecer um relacionamento abusivo? "Óbvio que sei identificar", algumas vão dizer. Porém, não é raro chegar ao consultório pessoas, em sua maioria mulheres, que não sabiam que estavam em relacionamentos abusivos.
Por amar demais a outra pessoa, às vezes por questões de auto estima, a pessoa não consegue identificar o que estava acontecendo com ela. Algumas vezes, a primeira resposta é: ele não me bate. 

O que caracteriza um relacionamento abusivo não é só a violência física, mas há também a violência moral, psicológica, sexual, patrimonial e econômica. Muitas pessoas não se dão conta de que o abuso possui diversos lados, não apenas o físico, e acabam ficando presas em relações complicadas.
Geralmente, uma relação abusiva é aquela onde predomina o excesso de poder sobre o outro. É o desejo de controlar o parceiro, de tê-lo para si. Esse comportamento, geralmente, inicia de modo sutil e aos poucos ultrapassa os limites causando sofrimento e mal estar. E muitas vítimas usam isso como desculpa: se ele não era assim, ele vai mudar; eu acredito na mudança; vou salvá-lo dessa situação; ele está apenas passando por um momento difícil na vida. 
Aqui estão algumas formas que a pessoa abusiva pode agir e você não se dar conta de que é um abuso:
  • Zomba ou constrange você na frente dos amigos e da família
  • Minimiza suas conquistas ou não incentiva você a conquistar seus sonhos
  • Faz com que você se sinta incapaz de tomar decisões
  • Usa da intimidação, culpa e ameaças para obter sua complacência
  • Diz o que você deve ou não vestir
  • Fala como deve deixar ou pentear o cabelo
  • Diz que você não é nada sem ele ou que ele não é nada sem você
  • Te trata de maneira grosseira sem o seu consentimento, beliscando, agarrando, empurrando ou até agredindo
  • Faz várias ligações por noite ou aparece para garantir que você está onde disse que estaria
  • Usa as drogas e álcool como desculpa para dizer coisas indelicadas ou para abusar de você
  • Te culpa pela maneira com que age ou se sente
  • Faz pressão para fazer sexo, mesmo que você ainda não se sinta preparado
  • Dá a sensação de que “não há como sair” do relacionamento
  • Evita que você faça outras coisas que gosta, como ficar perto da família e de amigos
  • Não deixa que saiam de um lugar após uma briga ou abandona você em algum lugar após um desentendimento, só para “ensinar uma lição”
É difícil definir quando um relacionamento é abusivo, porém, os principais indicativos de uma pessoa abusiva são: ciúme e possessividade exagerados; controle sob as decisões e ações do parceiro; querer isolar o parceiro até mesmo do convívio com amigos e familiares; ser violento verbalmente e/ou fisicamente; e pressionar ou obrigar o parceiro a ter relações sexuais.
 As principais dificuldades de sair desse tipo de relacionamento costumam ser:
- Emocionais e afetivas: insegurança e incerteza diante do que virá, medo de ficar desamparado (a), medo de reações provenientes do parceiro, crença de que o parceiro poderá mudar as atitudes e “ser uma boa pessoa”, medo de ficar sozinho (a), crença de que não conseguirá se restabelecer e seguir em frente.
- Questões legais e jurídicas: desgaste relacionado ao tempo e à burocracia, falta de conhecimento por parte das vítimas sobre o que ocorre entre a denúncia e a sentença.
- Sociais: a relação abusiva pode ter isolado a vítima e a mesma pode estar distante dos seus familiares e amigos.
- Econômicas: principalmente quando a vítima depende do parceiro.
Somado a tudo isso, na Pesquisa DataSenado 2013, 30% das mulheres disseram não confiar nas leis e nas medidas formuladas para protegê-las da violência. Somado a tudo isso, a nossa sociedade persiste na cultura da culpabilização das vítimas.
Pode ser difícil sair desse tipo de relacionamento, mas não impossível. Procurar ajuda psicoterápica, grupos terapêuticos, jurídica, psiquiátrica; além de familiares e amigos de sua confiança, podem facilitar bastante esse processo. O importante é lembrar que sempre há uma saída.



Escrito por:
Luiza Braga (CRP 11/04767)
Psicóloga. Possui especialização em Psicologia da Saúde pela PUC/SP e Mestrado em Psicologia Clínica pela PUC/SP. É psicóloga clínica há 9 anos com experiência no atendimento de crianças e adultos, na área da psicossomática, trauma e luto. Sócia diretora do Veredas Psicológicas – Caminhos de Crescimento. Coordenadora de grupos de estudos. Atualmente faz formação em Experiência Somática e Traumas na Associação Brasileira de Traumas. Membro da ABT - Associação Brasileira de Traumas.




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