quinta-feira, 7 de novembro de 2013

10 Filmes Sobre: Morte e Luto

A finitude é o pré-requisito da existência. Em seu livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Saramago nos diz isso claramente, com a rudeza das palavras naturais: "O barro ao barro, o pó ao pó, a terra à terra, nada começa que não tenha que acabar, tudo o que começa nasce do que acabou."

Os filmes abaixo mostram um pouco da nossa difícil relação com essa constante companheira. 


A Fonte da Vida 
(2006)

Filme interessante, com uma narrativa inusitada, conta a história de um homem e seu confronto com a morte em três épocas distintas - passado, presente e futuro - na busca pela eternidade ao lado da mulher que ama.

A negação da morte, as fases do luto e a transcendência do amor são os aspectos principais deste filme belíssimo. 

"Juntos, nós viveremos para sempre."



Abraços Partidos 
(2009)

Harry Caine é um escritor cego que mora em Madri e é assessorado por Judit e seu filho, Diego. Quando Harry fica sabendo da morte de Ernesto Martel, um rico empresário, o seu passado começa a ecoar. Acompanhamos, então, a história de Mateo Blanco, nome verdadeiro de Harry, e seu trágico envolvimento amoroso com Lena, a amante de Ernesto.

Pedimos que você dê atenção especial pra cena das fotografias picotadas. Depois conte pra gente como foi!

"Você acha que vale a pena seguir adiante? Ou é loucura?"



A Partida
 (2008)

Belíssimo e delicado, A Partida ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009. Não é pra menos. Conta como um músico, ao ver-se desempregado e obrigado a voltar para sua casa numa pequena cidade, aceita um emprego inusitado como ajudante numa funerária, preparando os corpos para o ritual de despedida e cremação.

Com direção e fotografia primorosas, o filme fala de morte e renascimento, de perdas e reencontros, da vida como passagem. Imperdível!




Anticristo 
(2009)

Escrito e dirigido por Lars Von Trier (Dogville, 2003), o filme conta a história de um casal que, de maneira trágica, perde o único filho. O marido, psicoterapeuta, acredita que dá conta do luto dele mesmo e da mulher, e resolve levá-la para uma cabana no meio da floresta para que possam confrontar seus medos e superar de uma vez o trauma. 

O filme, na verdade, tenta mostrar o lado mais escuro (e, talvez, mais humano) da alma, numa versão de “paraíso” correspondente a essa sombra. Não é exatamente um SUPER filme (na humilde opinião deste blog, claro), mas é curioso e não deixa de ser divertido ficar procurando elementos simbólicos soltos o tempo inteiro por quase todas as cenas. 

"A Natureza é a igreja de Satã."



A Balada de Narayama
 (1983)

Numa pequena vila do Japão, quando o idoso atinge 70 anos, deve ser levado para o topo de uma montanha para aguardar a morte. Orin é uma senhora de 69 anos e sabe que, no inverno, deverá fazer o caminho sagrado para não desgraçar sua família. Seu filho não aceita a tradição, mas Orin está disposta a fazê-lo entender a importância de cumprir o ritual, tomando para si a incubência de organizar a vida dele para poder partir em paz.

Um filme forte, que vai de encontro aos nossos valores ocidentais contemporâneos. No entanto, desperta para o fato de que, no doloroso caminho para a morte, podemos encontrar a nossa humanidade.





Minha Vida Sem Mim
 (2003)

Ann é uma jovem mãe de família que vive uma vida simples e feliz, morando num trailer. Desconfiando estar grávida novamente, Ann procura um médico e acaba descobrindo que está com câncer e tem pouco tempo de vida.

Decidida a manter segredo sobre seu estado de saúde, Ann se empenha em escrever e realizar uma lista de coisas importantes que ela gostaria de fazer antes de ir.

Minha Vida Sem Mim é delicado e comovente (se prepare para cenas fortes, como a das fitas de áudio), mas que, ao quebrar a regra das respostas clichês para a pergunta "o que você faria se soubesse que iria morrer em breve?", desperta para reflexões interessantes sobre o que é realmente importante na vida.

"Agora você sente que gostaria de tomar todas as drogas do mundo, mas todas as drogas do mundo não vão mudar o sentimento de que toda a sua vida foi um sonho e só agora você está acordando."




O Sétimo Selo
 (1957)

Outro filme que mostra a vã tentativa de "driblar" a Morte. Dirigido por Bergman, O Sétimo Selo conta como um valente cavaleiro, ao retornar das Cruzadas, encontra seu país devastado pela peste e pela loucura coletiva, até que a Morte o alcança. Orgulhoso de sua racionalidade, o bravo cavaleiro convence a Morte a disputar o seu tempo de vida em uma partida de xadrez.

"A fé é um tormento. É como amar alguém que está na escuridão e nunca aparece, não importa o quão alto você chame."



Enter The Void - Viagem Alucinante 
(2009)

Oscar é um usuário de drogas que mora em Tóquio com sua irmã caçula, Linda, que trabalha como stripper. Após ser baleado, Oscar morre e passa a observar a realidade num sobrevoo atemporal.

Entre o neón nauseante, numa odisseia pelo submundo de uma das maiores capitais do mundo, Enter The Void é uma experiência interessante e envolvente, com uma trilha sonora que contribui bastante para a sensação de estar, de fato, numa verdadeira viagem.

"Basicamente, quando você morre o seu espírito deixa o seu corpo. Na verdade, a primeira coisa que você vê é toda a sua vida refletida  num espelho mágico."



Gritos e Sussurros
 (1972)

Três irmãs estão reunidas na mesma casa por um fato trágico: uma delas está morrendo. As outras duas, com ajuda de uma empregada, oferecem os cuidados paliativos, mas não conseguem lidar com a presença da morte eminente, ao mesmo tempo que, secretamente, desejam que aconteça rapidamente.

Bergman, mais uma vez, oferece um olhar cruel (e, por isso mesmo, real) da natureza humana a e da alma feminina. Belo!

"Não existe alívio, nem caridade, nem ajuda! Nada!"



Minha Vida 
(1993)

Bob Jones recebe ao mesmo tempo duas notícias transformadoras: que ele será pai pela primeira vez e que ele tem uma doença terminal. Bob quer fazer parte da vida do filho a todo custo, então decide fazer um filme falando de si, da vida que leva e de como vê o mundo. No processo, Bob acaba descobrindo muito mais a seu respeito e compreendendo melhor a sua relação com a própria família.

Doce e engraçado, Minha Vida é um filme muito bonito, que merece ser visto.

"Morrer é uma forma muito dura de aprender sobre a vida."




Esperamos que tenha gostado da seleção. Se quiser contribuir com a sua dica, sinta-se livre para comentar. Lembrando que no mês que vem faremos uma postagem especial com um apanhado de todas as dicas deixadas no blog e na nossa página do facebook.

Dia 20/11 (quarta-feira) teremos nosso último Pimenta Nos Olhos Pra Ver Melhor (em 2013, claro!) e escolhemos um filme muito bacana pra discutir com você. Aguarde!


Até breve!

domingo, 3 de novembro de 2013

Sorria, hoje é domingo!


"Nem sempre o navio de nossa vida 
chega ao porto pretendido.
Mas nem desvio da rota, 
nem naufrágio, 
nada disso é derrota. 
Terrível é passar anos a fio
sem coragem de navegar,
ancorado na mesmice
a ver navios."

Ulisses Tavares




Veredas Psicológicas deseja pra você uma semana bem cheia... de ATITUDE

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

5 Livros Sobre: Psicoterapia clínica para iniciantes

É inegável que a escolha de enveredar pela prática clínica traz muitas angústias e ansiedades para o "prototerapeuta". Além do peso da responsabilidade para com aquele que o procura, o terapeuta iniciante muitas vezes questiona suas "habilidades" técnicas e compreensões teóricas, lutando contra a terrível sensação de nunca "estar pronto" para esse encontro com o sofrimento do outro.

Recomendamos, então, algumas leituras interessantes que podem servir de bálsamo para os corações desses estudantes e profissionais. Não obstante recomendamos que essas leituras sejam feitas de coração aberto, sem aprisionamentos de abordagens e filosofias. São relatos de experiências de pessoas que viveram uma vida voltada ao cuidar, cada qual no seu tempo e lugar, com sua visão de homem e de mundo. Não são manuais, nem livros de catequese. Não querem vender peixe. São pessoas que ousaram compartilhar. Então, amigos, ousem receber!



Tornar-se Pessoa 
Carl Rogers


Com 33 anos de experiência recebendo pessoas - crianças, adolescente e adultos - com as mais variadas demandas, Rogers fez um apanhado de tudo que aprendeu no seu processo de tornar-se psicoterapeuta.  


"Simplificando, o objetivo deste livro é o de compartilhar com vocês algo da minha experiência — alguma coisa de mim. Aqui está um pouco daquilo que experimentei na selva da vida moderna, no território amplamente inexplorado das relações pessoais. Aqui está o que vi. Aqui está aquilo em que vim a acreditar. Foi essa a forma como tentei verificar e pôr à prova aquilo em que acreditava. Aqui estão algumas das perplexidades, questões, inquietações e incertezas que tive de enfrentar. Espero que o leitor possa encontrar, neste livro que lhe é dedicado, algo que lhe diga respeito." - Rogers, 1997.




A Voz e o Tempo - Reflexões para Jovens Terapeutas
Roberto Gambini


Tem algo nas palavras do Gambini que enfeitiçam. Não seria errado dizer que esse "algo" é uma compilação da sua espontaneidade e abertura, do seu senso de realidade e da sua capacidade para invocar a magia que é Ser Humano.

No livro A Voz e o Tempo, Gambini não diz nada além do que viu, ouviu, refletiu e aprendeu. Ainda assim, nessa soberba simplicidade, o livro é uma oferenda aos que estão começando ou revendo seus caminhos profissionais.

Embora escrito por alguém que traz uma bagagem da Psicologia Analítica, o livro propõe um olhar que transcende abordagens e toca o que é de todos.

A Voz e o Tempo - Reflexões para Jovens Terapeutas ganhou o prêmio Jabuti de Psicologia e Psicanálise no ano de 2009.



"A voz e o tempo: o que o tempo fez com a minha voz, minha expressão. No decorrer dos últimos trinta anos, durante os quais me dediquei ao ofício da psicoterapia, acumularam-se em algum ponto do trajeto que leva das entranhas à mente, passando pelo coração, camadas sobre camadas de sentimentos, observações, pensamentos, aprendizados, experimentos, descobertas, questionamentos, formulações, tomadas de posição. O tempo operou sobre essa estratigrafia de impresseões e acabou revelando seu poder de moldar toda essa massa plástica sutil e transformá-la em palavra pronunciada, que agora apresento como texto dedicado a jovens terapeutas em busca de seus caminhos e de suas verdades." - Gambini, 2011




Cartas a um Jovem Terapeuta
Contardo Calligaris


Livro de cabeceira, geralmente comprado entre o segundo e o terceiro semestre de faculdade, Cartas a um Jovem Terapeuta é o clássico dos clássicos dessa lista. Ainda assim, sua validade permanece intacta e continuamos achando que, além da cabeceira, profissionais devem deixá-lo na estante da clínica também. Bem ao alcance das mãos.

Escrito num tom informal, numa conversa imaginária (?) com dois terapeutas iniciantes, Calligaris fala da sua experiência de vida, do seu percurso como psicanalista, deixando pontuações bem diretas e levantando questionamentos que fazem o leitor coçar a orelha e se perguntar: "como cheguei aqui?". As flores e dores do ofício, as diversas cores e matizes da alma do terapeuta.. Nenhum ponto fica de fora.


"A importância da confiança para que as curas funcionem vale provavelmente para todas as profissões da saúde. E vale mais ainda no caso da psicoterapia. Então, por que o psicoterapeuta não poderia esperar o tipo de vínculo duradouro e afetuoso que garante panetones, vinho e outros presentes nas festas? Voltarei sobre isso em outras cartas, mas, desde já, aqui vai: nenhuma psicoterapia, seja ela qual for, deveria almejar a dependência do paciente. Como disse antes, na psicoterapia, o terapeuta funciona um pouco como o remédio. Ora, transformar a confiança inicial numa eterna admiração e gratidão seria como substituir uma doença por uma toxicomania: você não tem mais pneumonia, mas tem uma necessidade visceral de tomar e venerar antibióticos. Ou, ainda, seria como curar um alcoolista tornando-o heroinômano. De fato, se a psicoterapia faz seu efeito, o paciente pára de idealizar o terapeuta. Tudo isso apenas para dizer que, se você gosta da idéia de ser um notável na cidade e de se sentir amado, a psicoterapia talvez não seja a melhor escolha profissional para você." - Calligaris, 2004




Escarafunchando Fritz
Fritz Perls


Perls era uma figura incrível! Com todas as suas mazelas e inconstâncias, conseguiu algo que poucos dão conta: ser ele mesmo, apesar de. A cereja do bolo foi contar como tudo aconteceu, num livro engraçado e comovente, escrito num ato de criação tão espontâneo (que chega a deixar o leitor tonto), dando lugar a "tudo que quiser ser escrito". 

A narrativa é tão flúida e tão permeada com a sua experiência pessoal, que o nascimento da Gestalt-terapia acaba sendo um detalhe, entre tantos e tantos construídos nada sutilmente nessa autobiografia.



"Se você odeia algo que existe
Isso é você, embora seja triste.
Pois você é eu e eu sou você
Você odeia em si mesmo
Aquilo que você despreza.
Você odeia a si mesmo
E pensa que odeia a mim.
Projeções são a pior coisa.
Acabam com você, o deixam cego
Transformam montinhos em montanhas
Para justificar seu preconceito.
Recupere os sentidos. Veja claro.
Observe aquilo que é real,
E não aquilo que você pensa.” - Perls, 1979




Em Busca de Sentido 
Viktor Frankl


O que esperar de um livro com o subtítulo "Um psicólogo no campo de concentração"? No relato autobiográfico de Viktor Frankl temos a oportunidade de acessar suas memórias mais dolorosas, afim de compreendermos a elaboração do seu olhar: "O que realmente importa não é o que nós esperamos da vida, mas antes o que ela espera de nós."

Dividido em duas partes, o livro relata a experiência de Frankl enquanto prisioneiro dos nazistas e, depois, a construção de sua teoria e prática psicoterapêutica com o apanhado dessa experiência. Comovente e mobilizador, Em Busca de Sentido é uma leitura obrigatória para quem quer entender melhor a função principal do fazer psicoterapia.


"Dostoievsky afirmou certa vez: 'Temo somente uma coisa: não ser digno do meu tormento". Essas palavras ficavam passando muitas vezes pela cabeça da gente quando se ficava conhecendo aquelas pessoas cujo comportamento no campo de concentração, cujo sofrimento e morte testemunham essa liberdade interior última do ser humano, a qual não se pode perder. Sem dúvida, elas foram 'dignas dos seus tormentos'. Elas provaram que, inerente ao sofrimento, há uma conquista, que é uma conquista interior. A liberdade espiritual do ser humano, a qual não se lhe pode tirar, permite-lhe, até o último suspiro, configurar a sua vida de modo que tenha sentido. Pois não somente uma vida ativa tem sentido (...) Se é que a vida tem sentido, também o sofrimento necessariamente o terá." - Frankl, 2005



Tem alguma dica interessante pra compartilhar com a gente? Vá em frente! Use e abuse dos comentários! 

Até breve!